Uma carta pra mainha

 Daqui de Casa, maio/2010

 

Oi mainha!.

Tenho olhado constantemente pro céu tentando te ver. Porque dentro de casa não te vejo mais. Só te tenho aqui, dentro de mim. Do alto tenho a impressão de que foi tudo um sonho, e de repente, meu anjo vai cair do céu pra não me deixar sozinha. É que tenho andado com um aperto aqui dentro que me consome cada dia mais. E quando penso que estou amadurecendo...deixo essas lágrimas caírem, e fico imaginando como seriam as coisas se não tivesses partido. Neste dia das mães, por exemplo, é o dia mais triste que tenho lembrança, porque afinal de contas, nunca tive grandes tristezas quando estava ao seu lado. O riso era frouxo, e os dias, cheios de graça.

Eu ja passei o dia das mães longe de ti, lembra? Foi horrível. mas nunca deixei de ouvir tua voz. Recordo-me agora quando em 2005, longe de ti, passei o dia das mães mais agoniado de todos. Comecei a ficar mal na sexta. No final de semana já não queria nada que não fosse seu colo. E lá estava eu, chorando feito criança sem colo, como estou agora, mas com a diferença de que naquele tempo eu voltei para os teus braços, e agora não tenho mais o meu porto seguro.

Tudo está muito difícil mainha. E não ter você do meu lado parece um pesadelo. Só que não dar pra acordar e te ter do meu lado me acalentando. Eu lembro que acordava chorando ou assustada todas as vezes que tinha sonhos ruins, mas a senhora acordava mais rápido, e num instante, estava do meu lado. Parece que sentia antes de mim. Hoje estou aqui, assustada com tudo, mas me fazendo de forte pra não enfraquecer os outros. E o que eu mais queria era te ter em meus braços, e como criança carente, sentir seu afago e ternura.

Dói muito. E dói sempre mais. Tudo foi muito rápido e parece que por isso fica cada vez mais difícil assimilar essa minha vida sem ti. E agora, continuo misturando as coisas e tendo reflexos de sua presença pelos cantos. Mas basta querer ir ao seu encontro, para esbarrar-me na dureza da realidade. Nessa hora não dar mais para te contar o que aconteceu no trabalho, nem dar pra dizer que Nubinha ligou. Não dar pra pedir sua opinião, nem pra te contar uma novidade. Não posso mais contar com seus mimos, nem com suas brincadeiras. E tanto que sonhamos juntas! E não posso mais planejar contigo, nem falar de meus anseios...

Mainha... e quando eu estiver com febre?

(...)

E a saudade vai me completando. Preenchendo esse vazio que a senhora deixou. Mas ando com medo dessa vida sem ti, minha mãe. Tenho medo de ter mais medo ainda, e não poder correr ao teu encontro. E enquanto que em muitas noites a senhora me abençoava mais de uma vez, com receio de esquecer, hoje já não posso mais te pedir a benção ao dormir e te dizer, como Nubinha, “tchau, até amanhã, boa noite!”.  

Sinto falta de tudo, e já não posso pedir a benção, nem desejar um Feliz Dias das Mães.

Sua filha que sente saudades...Ivanúcia Lopes