quinta-feira, 13 de maio de 2010

Então escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra. Quando essa-não-palavra – entrelinha – morde a isca, alguma coisa se escreveu. Uma vez que se pescou a entrelinha, uma vez que se pescou a entrelinha, poder-se-ía com alívio jogar a palavra fora. Mas aí cessa a analogia: a não-palavra ao morder a isca incorporou-a. O que salva é escrever distraidamente.

(Clarice Lispector)

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