segunda-feira, 3 de maio de 2010

Quando se prefere o silêncio


(Atendendo a pedidos, o texto está aí...)

Parece que no amor, o silêncio tem duas versões. Uma poeticamente linda, e a outra esteticamente drástica.  E isso se expressa através do cansaço, do riso forçado, do abraço sem jeito, do querer sem anseio, do beijar sem entregar-se. E percebe-se que não são os quilômetros que separam dois corações, mas o muro de silêncio que se ergue cada vez que se falam. Deve ser isso: as palavras que erguem o silêncio acabam por demolir a própria essência do que não se precisa dizer.

Uma vez li uma poesia sobre o silêncio de olhares apaixonados. O silêncio mais sadio que já ouvi! E eu amo o silêncio ritmado pela paixão. Amo o silêncio que se reproduz na respiração de quem está do outro lado da linha...Amo o silêncio das mensagens q só dizem três palavras. Amo o silêncio virtual que se realiza nos emoctions, nas reticências, nas repetições... Tudo bem que o silêncio não é tudo. Mas não vivemos nem de “tudos” nem de “nadas”. Controlamos-nos com doses certas, equilibradas destas coisas. Mas por que dói o silêncio se o amor nem sempre se traduz em palavras? Mas por que dói o silêncio, se poeticamente parece a coisa mais bela? É que se colocam o amor nas palavras que o silêncio não traduz, e soma-se a isso, a dor de quem transforma indiferença em poesia.  Mas permanece a utopia.

Há diferenças audíveis entre o silêncio apaixonado e esse outro silêncio. Não falo em fórmulas do amor. Não acredito que elas existam prontas e acabadas. Creio que elas são testadas todos os dias, e mostram-se altamente reativas na vida a dois. Afinal, há um ser que interage, que não é cobaia, apenas (às vezes não deixa de ser). Há um ser com restrições, com alergias, com hipersensibilidade e confusões. Há um ser que gosta disso e não daquilo, mas que pode aprender a respeitar o que não gosta, desde que seus mimos não se percam. E é dessa loucura que falo. Das reações imprevisíveis, do valor diferente que as coisas têm em dois corações, em duas mentes. E nesse momento o silêncio também fala, grita e se esgoela pra ser ouvido. Porque ele existe pra ser ouvido, sentido, respeitado.

Fala-se em limites, invasão de espaço, privacidade. E aí já parece que não falamos mais em amor, mas em geografia: organização do espaço e estabelecimento de limites territoriais. E geograficamente falando, os espaços vão se conformando, se alterando, se metamorfoseando, seja de forma natural ou artificial. Parafraseando com a geografia, o amor também depende de fatores internos e externos. E é ai que residem as instabilidades (parece que falamos em química, agora!). Porque algumas vezes, se opta por decidir sem pensar na reação, no feedback, no contraponto, no outro. E decide-se fazer sozinho. E se estiver cheio, que se exploda, que se imploda, que se cale. E se planta o silêncio.

Um silêncio que não vem antes do beijo. Que não nasce da falta do que dizer. Que não se sustenta com o amor embutido no olhar. Mas o silêncio que reflete como exaustão, e que dói em quem não quer ouví-lo.

É preciso pensar no silêncio que fazemos para percebermos que silêncio nós queremos. Porque enquanto não calarmos para ouvirmos o amor, outros sentimentos gritarão para serem degustados, consumidos. O importante é não permitir-se consumir pelo silêncio do orgulho, pelo calar do egoísmo ou pela falta de palavras do próprio amor. Porque até mesmo quem morre de amores, morre aos poucos quando não sabe vivê-lo. E que se viva, pois, o silêncio sadio. Mas que não se escravize no calar dos sentimentos.

Sempre será preciso acostumar-se a idéia de que a vida a dois é um anúncio de amor, e em contrapartida, a renúncia constante de pequenas coisas para que assim se abrace as grandes. Não faça silêncio quando quiser, faça-o quando precisar. Não cobre o sentido das palavras, mas dei-las razão quando elas não tiverem. Talvez o sentido seja não calar. Porque preferir calar é diferente de precisar calar. A preferência de estar calado, simplesmente, sufoca o amor que grita pra ser ouvido. Isso parece duro, mas não querer ouvir o amor, é preferir o silêncio de outros sentimentos, ou então contar com o belo em outro momento. Sentir que o outro prefere o silêncio a nos ouvir é como se não fosse mais preciso dizer nada, porque de tudo que foi dito filtrou-se a essência de não dizer porque já se sabia, ou se julgava saber.  Sentir que essa pessoa não te quer mais falar, nem ouvir, é uma agressão que te dói corpo e mente. É uma punição que te escraviza dentro de você mesmo. É um corretivo que te joga pra baixo, te chuta pra dentro e mesmo assim te manda embora. É castigo pra quem precisa de uma palavra, de um toque, ou mesmo de um olhar que diga que estar aqui, pra ouvir e pra calar juntos, se for preciso.

Tudo é questão de maturidade. Às vezes é preciso evitar que as conversas sejam fáticas, sem contornar com artificialismo forçado. Às vezes é preciso atender o telefone e falar que está ali, mesmo sem ter mais o que falar. É preciso saber despedir-se, sem calar na ultima palavra que se diz.


2 comentários:

Mia disse...

Eu aqui pensando no valor do silêncio e como ele pesa, por vezes, e pá!, você vem falando sobre ele... e como eu senti o peso de novo, e a leveza - e a maturidade! Tem amores e épocas em que o silêncio diz tudo no bom e confortável sentido da paixão. Tem amores e épocas em que tudo o que se precisa é uma palavra dita, mas se percebe que o silêncio guarda mensagens ininteligíveis.

Adooooro te ler!

Ivanúcia Lopes disse...

"Dispensável e Essencial" Paradoxalmente falando! ( Como "n" coisas dessa vida!)

Obrigada pelo carinho e pelo zelo com meus textos...

Bjo Prima!