'Vieram me falar de sonhos coloridos e eu disse que não queria saber. Pedi pra parar. E mandei que levassem aquela caixa de lápis de cor que estavam tão próximas de mim, naquela estante. Eu queria provar do gosto real das coisas pra ter certeza do que me angustiava tanto. Eu queria ver aquela manhã sem aquele sol que eu pintei de amarelo queimado no céu azul anil com nuvens brancas. Eu queria ver o sol sem a cor que eu escolhi. Eu queria ver o sol com a cor q ele tem. Eu queria ver o dia, mesmo sem sol, cinza. Não. Isso não é amargura. É vontade de ver a vida além daquele caderno de desenhos que a gente criava o mundo com duas árvores frondosas, uma rede no meio e uma casa do lado com fumaça na chaminé. É necessidade de ver a vida mesmo com grafite, sem contornos de canetinhas ou de cola glitter. É urgência de ver a vida como ela é. Sem acabamento.
Daí, senti uma angústia sem tamanho em meu peito: Aquela vida desenhada não era minha. Eu havia misturado os rascunhos com as obras e tinha acabado de jogar fora o desenho mais bonito, sem ao menos pintar.'
Faz a ponta desse lápis,
e vem colorir meu dia.
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