terça-feira, 3 de agosto de 2010

...sobre esse espaço aqui, dentro de mim.


Eu zelo isso aqui porque talvez seja o pedaçinho mais poético de mim. Um pedaçinho que mimo porque, de certa forma, só me faz bem. Um pedaçinho que, embora sem limites, me cabe direitinho, mesmo confusa, expansiva ou retraída. Não que interesse a muita gente, mas talvez alguém se identifique, e ao invés de ler palavras soltas, poderá uni-las à seu modo, sem prendê-las ou sufocá-las, mas se deixando traduzir.

As coisas aqui são meio escuras, talvez pela profundidade. Não gosto de raso, mas de transbordamento. Não, eu não sei nadar. Mas nunca saio de casa sem uma bóia pra me segurar. Às vezes caio, perco o chão, permito-me sufocar, mas mergulho em mim, tenho fé, e saio sempre de alma lavada. Enlevada. Às vezes dói muito estar aqui. Às vezes não. Às vezes sara, outras vezes abre feridas. Mas eu quero estar. Quero ser. Quero usar essa palavrinha que salta febrilmente pra contar o real que existe em mim. Pra revelar os desejos que sobram, e pra pintar os medos que assombram.

Tenho palavras coloridas. Às vezes cinzentas. Mas sempre transparentes. Falo por mim e pelos outros. Calo em mim e os outros me falam. É uma partilha (ou cartilha!) de prazer e desgosto. Um descontentamento. Uma caderneta com laços, com figuras e coraçõezinhos. A simplicidade de dizer nada com tudo que há, e de fazer-se tudo com o nada que existe.

Não que o amor seja correspondido, mas me apaixono todos os dias pelas palavras. Paradoxais, reveladoras, cortantes, confortantes, transparentes, carregadas, misteriosas, traduzíveis. Encanto! Pelos cantos. E dessa intimidade vocabular e afinidade platônica nasceu a vontade de reler os momentos, de recontar os instantes, de não resumir, mas de eternizar o gesto.

Há muito tempo que curto diários. Acho que eles me curtem também. Sempre achei a coisa mais cheia de graça. Há quem não goste, há quem critique. Mas eu sempre preferi os mais enfeitados, com laçinhos, adesivos, e espirais coloridos. Nunca quis pintar o irreal, mas sempre quis dá cor aos fatos, dá cheiro e vida aos inanimados. Já inventei a voz do sol, já transformei um muro em personagem (e ele atuou muito bem!), já disse que o relógio falava e já narrei a verdade do espelho. Ah! E assumi ‘n’ vezes que sou mesmo um amontoado de confusões. E cá comigo, gente assim tem mesmo que escrever. Gente assim tem que desenhar arco-iris pelos cantos, tem que riscar corações nos cantos nas folhas. Tem que gostar de cor, de som, de cheiro. Tem que degustar (se empanturrar!), sentir, amar.

Daí aos poucos meus diários se esvoaçaram (mentira, eles estão beeem guardados!), e caí de novo numa página que me espera (que me leva pra longe!), que se alarga, que me abraça, que se empresta pra mim sempre que eu preciso. E com algumas palavras rabisco  (digito!) um pouco de mim. Rascunho-me sempre. E deixo transparecer uma alma colorida, cheia de flores, cheia de sonhos, cheia de versos, cheia de nada, quase sempre. Minh’alma. Um todo confuso, poético, febril, cheio de tédio, cheio de tudo. 

Mais uma palavrinha, sempre que posso. Porque emudecer não tem graça.

Um comentário:

Mia disse...

Entendi perfeitamente. Vc não poderia se traduzir melhor, ou recontar a necessidade de quem se alimenta de escrever/ler.
Sempre ótimo.
Bjsss