A verdade é que passamos um bom tempo querendo fazer as coisas certas, e aí, muitas vezes, na busca desenfreada pela certeza, acabamos fechando os olhos, ignorando as pessoas, corrompendo nossas idéias e sintetizando tudo: os amigos, os contatos, as paqueras, as risadas, as chances, as oportunidades... Em contrapartida, tantas outras coisas se intensificam: as intermináveis horas de estudo, a jornada de trabalho e as horas extras, as lamentações, a falta de um amor ou de alguém que nos faça sentir bem, mesmo sabendo que, certamente, somos tão errados... Na verdade, simplificamos umas coisas e multiplicamos tantas outras.
E a nossa vida vai caminhando, e a gente, quase sempre, reclamando. Reclamamos se passa de forma rápida: alegamos que não temos tempo de pagar uma conta no banco antes do término do expediente, que não fazemos faculdade porque não chegou a hora, e se chega dizemos que é tempo demais, alegamos não poder ir a uma festa em família porque saímos tarde do trabalho e no outro dia começa tudo de novo, alegamos que não compramos um presente para alguém especial porque nas horinhas de folga adormecemos de tão cansados, dizemos que não podemos nos doar aos outros porque não sobra um mísero segundo...
Reclamamos muito.
E se a vida vai caminhando a passos largos, começamos a enxergar as horas que sobram e a gente se põe a reclamar, mais ainda. Achamos ruim não ter um cd novo para ouvir nas horas vagas, não ter para quem ligar e jogar conversa fora nos dias em que as ligações são barateadas, não ter o que fazer nas noites sem lua ou nos dias de chuva...achamos um tédio não ter para onde ir nos dias de sol, nos feriados,nos dias santos...ou no fim da aula...
Reclamamos da velocidade e da lerdeza. Reclamamos da falta e do excesso. Da falta de alguém que nos espera chegar da escola com um sorriso nos lábios, de alguém que nos abrace com amor e que veja em nosso olhar o reflexo da alma, de alguém que nos conheça sem precisarmos falar muito e que mesmo no silêncio saiba o que falar para quebrar o gelo...
E contraditórios como somos, reclamamos do excesso de mensagens na caixa de emails, excesso de pessoas pelas calçadas e que nos vêem passar todos os dias...excesso de preocupação das pessoas conosco...e remoemos até exceder nossos limites, e chegamos a magoar aqueles que na falta ou na demasia, sempre estiveram do nosso lado...
Já ouvi alguém dizer que pensar nisso tudo faz a gente ficar triste, desanimado, para baixo... o fato é que corriqueiramente estamos caminhando de variadas formas, pensando de variadas formas e querendo achar variadas formas de ver a vida da melhor forma. Contudo, nos esquecemos de vivê-la, apenas para vê-la...
Deixamos de dá conta de nossos compromissos, muitas vezes, porque preocupamo-nos muito mais em observar o outro...Deixamos de ir a uma confraternização porque nos enchemos com as perguntas, as fotos, os risos frouxos ou forçados, o brilho das roupas, das cortinas...Deixamos de presentear alguém com medo de que não gostem ou de parecer ridículos, bobos...Deixamos de cantar uma música antiga temendo as risadas, de ver um filme antigo para não parecermos julgados ultrapassados... Deixamos de correr, de pular, de tomar banho de chuva, de andar de bicicleta e vez por outra soltar as mãos...
Os dias se vão e a gente vai sentindo falta...até que as lágrimas se excedem...Nessa hora, vamos observando que as coisas poderiam ser diferentes, que poderíamos ter feito de outro jeito...que a gente não devia ter tanto medo...
Já me disseram, certa vez, que gastamos muito mais tempo planejando do que fazendo, e que tantas outras vezes, acabamos por não fazer nada...Em outros momentos, arquitetamos sonhos, mais os dos outros do que os nossos... e de repente, achamos que ainda não fizemos nada, não temos nada, não somos nada.
E pensando bem, seremos, de fato, um nada, se não nos enxergarmos no outro e se não nos permitirmos conhecê-lo... Porque sempre encontraremos várias pessoas em nossas vidas, e são elas que nos fazem ser como somos: complicados, apaixonados e duvidosos: um complexo de amor e dor
O bom disso tudo é ver que ainda podemos nos tornar seres humanos melhores, simplesmente, porque ainda dá tempo. O que a gente precisa é encontrar a medida certa das coisas. É, mas isso é realmente difícil. Algumas pessoas dizem que ainda é muito cedo, outras dizem que é tarde e que já passou da hora... os mais sensatos nos apontam soluções maduras para viver os dias, e nós, erroneamente, imperfeitamente, vamos indo...do nosso jeito.
Um dia a gente achou que tudo era fácil. Que os dias eram iguais. Que os ventos sopravam sempre para o mesmo norte. Que a chuva tinha a mesma intensidade... Até que foi preciso caminhar...Até que foi preciso coragem. Até que foi preciso viver. Não que antes a gente não vivesse, não que antes a gente não caminhasse, mas chega a hora em que a vida, mesmo sendo uma só, já não é a mesma, simplesmente porque nem as situações, nem nós somos mais os mesmos... E com isso, nossos passos se tornam diferentes, por que o caminho não é o mesmo, porque o destino não é o de outrora, porque não estaremos sempre com alguém do lado nos mostrando o que é certo ou errado.
Pensando nisso é que eu vejo o quanto somos e seremos aprendizes... O quanto temos medo e que isso não significa que somos fracos... E é na hora em que a vida exige cada vez mais de nós, que precisamos estar preparados para agir conforme o que aprendemos. Mas o bom disso tudo é termos a chance de melhorar, de rever as lições aprendidas, de poder fazer de cada instante um eterno aprendizado.
Eu não queria ter que lamentar pelas coisas que deram erradas porque não tentei fazê-las como deveria...
Eu não queria reclamar tanto, pela rapidez ou lentidão dos fatos, eu não queria ficar sem amigos, sem tempo, sem amor, sem luz, sem medo... ou até mesmo sem problemas.
Eu não queria querer tanto, sem aproveitar o tempo que tenho agora. Mas se aqui estou, e se ainda posso querer... quero a chance de ser uma pessoa melhor.
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