Dois seres discutiam a respeito da finitude do amor. Um se chamava ninguém, outro se chamava alguém.
ALGUÉM: amor é uma bela flor que ora morre, ora se mata! É ave morta que vive revoando sob o céu do nada.
NINGUÉM: que pensas, companheiro! Sabes que o amor é tão eterno quanto o tempo!… e não se evapora; nem diante do mais forte vento!
ALGUÉM: é, nobre amigo! Acho que o amor é o livro da mais densa metafísica: não se pode mensurar, pois nem mesmo é algo físico; então o deixo fechado, empoeirado e esquecido.
NINGUÉM: …é lembrado a cada sorriso que a beleza revela; a cada instante que a ausência supera; a cada lampejo de autêntica inspiração e… a cada batida acelerada dum nobre coração,
ALGUÉM: e sempre morrerá, pois Cronos é implacável e sempre há de fazer murchar a cor rubra da paixão.
NINGUÉM: já amaste, meu caro? Já sentiste a tênue brisa que vem do leste e que vira fogo e nos aquece?
ALGUÉM: meu pobre sonhador! Que pode ser o amor? Se não efêmero vento que vem do norte, passa (não fica) e encontra a morte.
NINGUÉM: o amor é um deus imortal para aqueles que cultuam a beleza que está na essência! …vai além das aparências do supremo querer!
ALGUÉM: pois se o visse, agora mesmo o mataria!
NINGUÉM: é tão sublime falar para uma musa, uma poesia.
ALGUÉM: palavras, palavras, nada podem com o tempo, ditador e general, que sufoca o sonho que nasce e então para jazer em paz.
NINGUÉM: lançar-te-ei um desafio! És capaz de fitar um anjo que se chama por mulher e resistir sem acelerar uma batida de coração sequer?
ALGUÉM: como ousas desafiar aquele que não enxerga nada, a não ser a figura austera da razão?
NINGUÉM: espera a noite que logo chegará e o deus Cupido acertará, bem no centro do seu coração, fazendo nascer a flor duma sublime emoção…
ALGUÉM: provar-te-ei caro amigo que o amor nada mais é do que um oásis perdido num deserto de ilusão...
PRÓLOGO: alguém não acreditará no amor enquanto ninguém insiste em cultuar aquele que outrora reverberou primaverilmente, em vorazes corações
Mr. Luz
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