quinta-feira, 22 de julho de 2010

Faz tempo, mas é que me faltavam palavras



Já fazia um bom tempo que eu queria escrever, aliás, que eu precisava escrever. O hábito que antes me aliviava terapeuticamente parecia me assustar a cada dia. Sentia um misto de dor e medo, desejo e receio. E andei calada por aqui, mas sentindo pulsar em mim um monte de palavras que eu preferir engolir. Depois entendi a razão de minhas indigestões, e vi que a não assimilação dos fatos é que me causava mal estar. E eu que antes aliviava tudo com a ponta dos dedos nesse teclado reconhecia que sequer um sal de fruta funcionava pra aliviar isso que queima dentro de mim. Eu não conseguia sequer encarar o Word, meu amigo confidente de antes. E quando fazia, expunha o peso disso tudo monossilabicamente. E mesmo normal, sem negrito, tudo pesava. Uma e outra palavra parecia a extensão incomodada desse eu confuso. E frente àquela tela branca que pedia pra ser completa, eu me sentia incapaz. Um ser pedinte, mas de braços cruzados pelo orgulho. Um ser miserável, mas com reflexos de fortaleza pra dar e pra dar. Um misto de solidão e multidão, que se fazia triste pelas duas razões. Um ser racionalizado pela sequência, e emocionado pelas conseqüências. Fragilizado pelas quedas e perdas. E encapuzado com medo de ser visto como é.
Estava intimidada por aquela tela. Tão branca. Tão leve. Tão vazia, como eu. E sempre que eu começava, não conseguia terminar. Duas linhas, quando muito. Resumidas, como eu. Era como um espelho que refletia uma imagem triste, que eu não queria enxergar, mas era eu. Sentia-me envergonhada de me expor assim, daquele jeito. E calei-me. Calei porque não encontrava forças pra me encarar. Calei porque se eu falasse poderia parecer frágil demais. Calei porque se eu não fizesse isso, eu poderia ter explodido, porque eu nunca tive mesmo o dom de tocar violão pra cantar minhas dores, extravasar as angústias, nem de fazer músicas com tantos lamentos. Se o mal do século é a solidão, tenho medo, então. E eu que nunca quis ser fraca, nem quis ter a pena de ninguém, agora estava calada porque se eu falasse poderia não falar nada ou falar demais. Calei porque tinha receio de alguém me encontrar molhando as teclas desse computador de lágrimas, e ter que engolir o choro. Engolir o choro nunca me fez bem. Só mal. Mas é preciso encarar-me. Não deve ser tão ruim assim. Pode ser dolorido, mas é preciso.
Vai ver não é que a inspiração tenha passado por longe...é que talvez eu tenha tomado tanto o choro que acabei frustrada. Preferi o raso. O reto. O pouco. O nada. Tinha medo de fraquejar com as palavras, de debulhar-me em lágrimas e achar que essa máquina aqui poderia rir de mim. É, parece loucura. Eu também já pensei nisso. Mas agora, que me encorajei pra falar, penso que seja preciso mais coragem ainda pra não calar mais desse jeito. É que a falta de base me deixa no chão. É que a dor da saudade às vezes me impede de levantar. Quanta confusão! E nesse peito “band-aidizado”, chora uma menina que queria a benção de mãe, o cheiro de mãe, a presença de mãe na sua vida. Chora uma menina que precisa de aconchego, que se doa por amor, mas que foge com medo de sentir mais dor. Chora uma menina que se enche de sonhos e se esvazia, vez por outra, como bexiga que solta o ar, ou explode de vez.
E agora, ainda chora aquela menina, mas quer fazer isso com mais leveza, como agora que escreve aliviando-se dessa dor que atormenta, desse vazio que transborda e das verdades inventadas pra “eufemizar” as duras mentiras.
E agora, embebida pela doçura, pela coragem de antes e pela sensibilidade de sempre, preciso encarar as coisas sem receio de cair. Encarar o espelho sem medo de enxergar-me. Olhar pra o chão e recolher os sonhos que pisei sem pena, olhar pra frente pra sonhar os outros que deixei passar, e viver o agora, com os sonhos que ainda tenho pra sonhar. Agora ainda tenho dores em mim, e talvez eu ainda as tenha por muito tempo. Pra sempre. Mas de tudo, resta-me a certeza de que tudo vale. A certeza de que ser feliz dar tempo.
E de repente, permiti me ver, novamente. Meus cabelos nem estavam tão feios, meus olhos têm brilho, meu peito tem saudade, é verdade. Mas é assim que tem que ser. Riso e lágrima dentro e fora de mim. 
 (...)
Ps.:Word amigo meu. A folha branca agora parece completa. 


3 comentários:

Mia disse...

Não gostei dos parênteses com reticências no final. Era pra ter mais. Mas tudo bem. Depois de ter deglutido essas palavras tanto tempo e colocar tudo para fora, parou com um soluço. Mas eu adorei. E esse foi um sinal de não-silêncio, o trato consigo mesma. Coragem sempre!

Bjãão!

Anônimo disse...

Nossa, é emocionante este texto, aliás todo o seu blog! Parabéns
E força e fé..

Lorena A. Vieira disse...

Eu sentia isso amiga!
Fico feliz que tenha conseguido desabafar um pouco!