domingo, 4 de abril de 2010

A falta que me sobra...




Sim. Eu tentei começar de outro jeito. Tentei rodear para escolher a palavra certa, mas elas resolveram me faltar no momento mais especial, assim como a senhora. Não que fosse de ti deixar-me sozinha, longe de mim pensar desse jeito. Não que fosse de Deus deixar-nos sozinhos, longe de nós crermos nisso. Mas de tudo, ainda sobrevivo, e faço improviso. E ando sobre aviso. E faço o que for preciso pra que não se apague sua imagem, nem seu sorriso.

E nas respostas do dia a dia, vamos indo. E às perguntas dos amigos, vamos indo. E de tudo isso, nós vamos indo. Porque nos parece que ir bem nos remete a tê-la em nossas vidas. E vamos indo. E assim se vão os dias. E parece que os dias vão seguindo em tons de cinza. Sem cores. Sem luz. Sem ti.

E de quatro que éramos um, somos três sentindo a falta de ser um todo.  Porque, como vês, falta uma parte de nós: falta a rima desses versos doídos, nestes dias tão cinzentos molhados pelas lágrimas, umas contidas, outras desenfreadas.

Falta a parte mais doce que transforma o amargor em ternura, e nos enche de cuidados.
Falta a parte sábia que nos ensina com proeza e se reveste de humildade.
E na falta desse todo, vamos indo esses dias...e teremos que ir nos outros.
E logo cedo, sem o gosto do café de mainha.
Sem o sorriso de quem mesmo acordando de madrugada dava conta de nos acordar fazendo brincadeiras, ou de silenciar para nos deixar dormir mais um pouquinho.

E vamos indo, sem a serenidade e a paciência de quem se fazia mil, mas soubera ser única.
Sem a paciência de quem zela pelo amor da sua vida.
Sem a dedicação de quem ama qualidades e defeitos.
Sem a delicadeza de quem falava ao telefone para saber como sua filha passa.
E sem a alegria de quem nos abraçava quando chegávamos de longe, ou até mesmo do outro lado da rua.
E eu vou indo. Sem a compreensão de quem conhecia meu humor, e sabia dosar o acalento sem permitir-se dobrar aos quereres de uma jovem em crise.

E agora, quando de vez em quando essa ficha vai caindo, sinto tudo mais duro ainda. Sinto o peso de meus passos sem tê-la ao lado deles, e tenho medo de cair e não tê-la do meu lado pra dar a força de sempre.

Porque não sei se conheci alguém que acreditasse tanto em mim como ela.
E talvez, por isso também, as coisas estejam ficando mais difíceis. E os dias vão-se indo sem a leveza de seu caminhar por entre os cantos da casa. Sem a precisão de suas ações. Sem o claro e bom tom de suas conversas. Sem seu encanto. Sem o contentamento de quem amava a vida com toda sua força, e soubera dar força a quem mais precisava.

E vai-se indo os dias. Não menos corrido, mas com menos sentido.
E vai-se indo os dias.
E resignamo-nos à dor de não te ver do nosso lado e de dizer aos outros que vamos indo.
E vamos indo com a saudade no peito...sentindo falta.
Falta do cheirinho de café...
Falta de quem gostava de nos enfeitar.
Falta das palavras de carinho.
Do perfume de suas mãos...
Do seu caminhar do nosso lado...
Do bolo de chocolate que fazias só pra mimar.
Das preocupações com nossas preocupações.
Do seu riso no tom do nosso...
De sua sabedoria, de sua humildade...
E vamos sentindo falta.
Falta de tudo.

E tudo perdura na falta que sobra.

Falta da mãe que nunca deixara de ter em casa duas meninas... de uma mãe que se doía com nossas febres, cólicas e tristezas. Que não tinha sono se não fosse o nosso o primeiro, mesmo quando o relógio corria e a gente chegava em casa bem depois das 10.

Falta da mãe que não tinha outra coisa em si senão o amor, pela vida, pela família, pelo casamento, pelos irmãos, pela igreja, pelos amigos...Era tanto amor que lhe sobrava pelos cantos...e se mostrava em seu olhar, em suas mãos, em ti, completamente.

Falta da mãe amiga, sem ambição, que além do que conseguira ser, no fundo queria ser sempre mais. Da mãe que sempre quis está mais perto: de nossos sonhos, nossos amores, nossas conquistas, nossas fraquezas... Falta da mãe alegre, cheia de graça, cheia de riso, cheia de Deus. E penso no choro infantilizado, ceifado em teu colo. Do mimo do dia a dia, do aconchego em meus cabelos, dos elogios mais francos, dos alertas mais maduros, do sorriso mais sincero...da minha mãe.

E no embalo dessa falta que me sobra, sinto o vazio de não vê-la com meu pai. Sinto a dor de vê-lo repartido. Sinto a dor de não te ver, mainha. Sinto a angustia de todos os familiares...Sentindo saudade.

Que seus exemplos continuem vivos.

E que a tua fé, minha mãe, seja estimulo de fortalecimento da nossa, para que acreditemos em dias menos cinzentos.

Que o amor de Deus conforte estes dias que vão indo.




Te amarei para sempre. 

Saudades Eternas




2 comentários:

Mia disse...

... e da falta que toma de arroubo o coração, Deus preenche com sua infinita misericórdia e em seu amor de pai, dota-nos com sabedoria e experiência.
Favoritei o seu blog. E terminou a missa e mainha disse "ô menina para escrever bem!".
Deus te ilumine - sempre, prima. Beijos pra vc, Nubinha e Ivonaldo.

Ivanúcia Lopes disse...

Ow mulher...só agora vi seu comentario Carol....Brigada prima...

Obrigada pelo apoio de todos vocês...

beijo beijo!!