Depois que minha mãe se foi veio a saudade ficar comigo. Ela montou uma barraquinha bem dentro desse peito, e se mostrou de casa, se alargando pelos cantos, se mostrando nos recantos e doendo todos os dias. Uns mais do que outros, mas nunca menos.
Esses dias eu ouvi um amigo partilhar de uma dor semelhante, mesmo acreditando que a dor da despedida nunca é igual, mesmo em casos parecidos. Esse meu amigo falava-me do quanto parece importante não desistirmos, e o quanto é necessário continuar caminhando. É questão de honra, de respeito...é não permitir que os sonhos acabem apenas porque uma das partes que também sonhava não estar presente fisicamente ao nosso lado.
Eu acho justo viver com saudade. Não creio que seja dor, apenas. Acho justo chorar pela falta, e acho justo rir de “vezenquando” com as lembranças boas que essa saudade revela. Na verdade, é essa saudade que agora faz parte de mim que, além de doer, também me arranca um riso sempre que lembro de minha mãe. Porque as lembranças boas elas não se foram, e onde eu estiver, faço questão de revivê-las.
O calendário marca dois anos, mas a dor é sempre de hoje. E a saudade é sem fim.
E não é porque estamos aprendendo a conviver com a saudade que as coisas ficaram mais fáceis. Continuam difíceis demais. Continuam pesadas também. Mas não há o que fazer, senão agradecer a Deus pelos anos vividos, e rogar por força para viver tantos outros.
E se a experiência da despedida é dolorosa até pra se ouvir contar, imagina viver! E naquele instante foi como se um pedaço de mim tivesse ido pra longe. Foi como se faltasse terra nos pés e sobrasse um longo caminho para seguir. E dessa vez, sem ela, minha guia.
Aquele instante foi como um pesadelo. Mas eu não acordei. E quando dei por mim, ela já não me acalentava. E a gente precisou seguir sem ela pra nos apontar o caminho. A gente precisou seguir sem ela pra fazer as malas, pra nos dá a benção, ou pra nos telefonar e perguntar se estávamos precisando de alguma coisa. Hoje a gente precisa de muita coisa, mas não a ouvimos mais perguntar. A gente fala com Deus para não nos deixar faltar a vontade de viver, e para nos permitir ser pessoas boas como ela sempre quis que fôssemos.
E a gente segue a vida. Precisando de mãe. Mas sem tê-la o tempo todo fisicamente. Mas a gente segue os dias, honrando nossos sonhos que também eram delas. E vivendo nossa vida, que foi dela primeiro, para só depois ser da gente.
Continua difícil. E nós já sabemos que assim será. Para sempre. Continua um vazio onde ela poderia estar: na mesa, no quarto, na casa toda. Mas continua tudo cheio de amor, porque ela nunca deixou faltar.
Que a paz de Deus esteja sempre contigo, como sempre estivera.
Seremos eternamente gratas.
A Deus por nos ter dado a vida, e a senhora por nos ter dado a luz.
Saudades, minha mãe. Que a gente não se perca pela tua ausência, e que a gente se encontre em cada lembrança. Porque a saudade é sem fim.
Suas filhas: Ivanúcia e Nubinha e todos os familiares.
PS.: Texto lido na missa de 2 anos de falecimento, neste domingo (04/03/2012)
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