Lembro-me que outro dia, caminhando pelas ruas apressadamente, fui atraída por uma melodia agradável que parecia vir de uma casa ao lado. Por um momento, senti como se o calendário marcasse o mês de junho, com aquele clima harmonioso embalado pelo saxofone que soprava melodicamente cada verso daquele hino. Na verdade, um fenômeno acústico que me atraiu até a calçada e me fez parar por alguns segundos. Mas foi só. Naquele momento eu não tinha o tempo suficiente para ficar inerte simplesmente para ouvir um saxofone ensaiar algo que todos os anos os devotos cantavam e eu já sabia de cor.
E aí no decorrer do dia guardei comigo a sensação de poder ouvir uma banda de música e me deixar levar até a calçada da igreja e acompanhar o hino de Santo Antônio, tocado com tanta fé e devoção. Afinal de contas, houve um tempo em que eu corria para ouvir, batia o pé e balançava com a cabeça a cada música que a banda tocava. E na frente da igreja eu via a banda tocar e corria todas às vezes para ver a banda passar.
Desde 1958, a cidade de Marcelino Vieira – RN acostumou-se com a banda de música. Na verdade, mais parece um caso de amor ritmado pela religiosidade e intensificado pelo gosto de ver a banda passar, a cada festa de Santo Antonio.
Saxofone, clarinete, contrabaixo, trompete... instrumentos bem conduzidos que levam às ruas, além da música, uma legião de pessoas que vão da prefeitura até a igreja Matriz na cadência desta tradição. E como se fosse um ritual, logo após as novenas lá se vão os fiéis de Santo Antonio seguir com lealdade e orgulho, aquela banda de música que marcha até o coração da cidade, onde as crianças correm para brincar nos parques, comprar algodão-doce ou mesmo comer cachorro-quente.
Na festa de junho, acompanhar a banda é praticamente uma promessa, e paga de muito bom grado, seja após a novena, seja às cinco da matina, ou no pingo do meio-dia. E aí, tem pessoas que correm para a calçada e acenam com a mão, outras que abrem a porta de casa com cara de sono, mas acompanham mesmo assim, e tantas outras, que mesmo enfadadas pelo forró da noite, saem de madrugada arrastando a sandália sem perder o compasso...
Ao som da banda, o encontro marchante de filhos, presentes e ausentes que se reencontram, se abraçam, e se encantam.
E hoje, ao ouvir a banda, há quem recorde de filhos ilustres que em tempos de outrora souberam levar a música com sentimento e maestria. E seja nas recordações saudosas de quem ouviu o amigo Beu, ou na memória recente de quem viu o amigo Zé de Crispim carregar a tuba, para embalar aquela sinfonia, a banda de música faz parte de nossa história...
E quando há 51 anos nascia a primeira banda de música, lançava-se também o irresistível convite de ver a banda passar.
Nas alvoradas e nas salvas, gente que vive a lembrança de outrora, mas se encanta com os brios da nova geração, gente que canta com fé o ontem e o hoje, e gente que marcha orgulhosamente sobre este chão vieirense.
No mês de junho, quando o vento sopra as bandeirolas e os parques, mesmo que timidamente, chegam à nossa cidade, lá vem a banda de música enfeitar a nossa festa e lá vamos nós, acompanhando a tradição.
E não importa denominação. Se temos a banda de música já temos o encantamento desta Festa.
E se em qualquer dia desses, um saxofone soar em nossos ouvidos, é quase certo o anseio de ver a banda passar, e mesmo que a correria nos empurre, haverá o desejo de sair marchando e acompanhando a banda de música.
(Por Ivanúcia Lopes - Jornalista)
Lembrei que ainda não tinha postado este texto... (Publicado no jornal PAróquia em Missão- Marcelino Vieira - Junho/2009)
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